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Ao menos 40 cidades dos EUA retomam a aposta nos bondes

17/08/2008

Cincinnati planeja linha circular de 12 km, que vai custar US$ 132 milhões. Projetos estão ligados à revitalização dos centros urbanos.

Bob Driehaus, O Estado de S.Paulo,  16 de agosto de 2008

Do seu bistrô francês, aberto há poucos meses, Jean-Robert de Cavel enxerga casas geminadas de estilo italiano contra uma paisagem de cortiços arruinados no histórico bairro de Over-The-Rhine, há muito à espera de uma revitalização. Ele vislumbra também uma virada para o bairro, graças aos planos de reimplementação de um sistema de trânsito que foi desmantelado nos anos 50: os bondes.

“Os seres humanos cometem a bobagem de querer se afastar rápido demais de certas coisas, principalmente neste século”, diz Cavel. “O bonde certamente criará um motivo para os jovens freqüentarem o centro.” As autoridades de Cincinnati estão preparando o financiamento para um sistema de US$ 132 milhões que ligaria os estádios da cidade, às margens do rio, aos bairros de negócios do centro e de alto padrão, onde se localizam seis hospitais e a Universidade de Cincinnati, numa linha circular de 9 a 12 quilômetros. Dependendo do pacote de financiamento, as passagens podem ser gratuitas ou custar entre R$ 0,80 e R$ 1,60. A cidade planeja pagar pelo sistema usando a arrecadação de impostos atual e mais US$ 30 milhões vindos de investimentos privados. O plano requer a aprovação do prefeito Mark Mallory, um dos seus proponentes, e da assembléia municipal.

Ao menos 40 outras cidades estão estudando planos para a implementação de bondes com a finalidade de estimular a economia, aliviar os congestionamentos e atrair jovens profissionais e casais cujos filhos já saíram de casa de volta para a cidade, tirando-os do subúrbio. Uma dúzia de cidades dispõe atualmente de linhas de bonde, incluindo New Orleans, que está recuperando um sistema devastado pelo furacão Katrina. Denver, Houston, Salt Lake City e Charlotte inauguraram linhas de bonde na última década.

“Eles servem para integrar um bairro ao restante da cidade”, observa Jim Graebner, presidente do comitê de bondes e transportes antigos da Associação Americana para o Transporte Público. “Isso é bastante evidente em lugares como São Francisco, que nunca desmontou o seu sistema de bondes.” Os modelos modernos, como os que Cincinnati planeja usar, custam US$ 3 milhões cada um, funcionam acoplados a um cabo elétrico suspenso e transportam até 130 passageiros sobre trilhos que correm junto ao asfalto. As portas instaladas dos dois lados dos veículos também ajudam os bondes a receber passageiros mais rapidamente do que os ônibus, encurtando o tempo das paradas.

Os defensores dos bondes apontam para Portland, Oregon, que construiu o primeiro sistema de bondes modernos dos Estados Unidos, em 2001, e acrescentou linhas interligadas a um sistema cada vez maior de trilhos leves. Desde que Portland anunciou o novo sistema, mais de 10 mil unidades residenciais foram construídas e US$ 3,5 bilhões foram investidos em propriedades num raio de dois quarteirões de distância da malha, de acordo com a Portland Streetcar Inc., que opera o sistema.

Os críticos, como Randal O?Toole, bolsista sênior do Instituto Cato, uma organização libertária de pesquisa em Washington, e especialista em crescimento urbano e problemas de transporte, afirmam que o crescimento ao longo das linhas de bonde é dependente do subsídio público e de pouca serventia. “Parece que o sistema vai levá-lo a algum lugar, mas é projetado apenas para servir a quem reside no centro”, disse ele. “Se as autoridades se deixarem levar pela empolgação e deixarem de lado as perguntas difíceis, os eleitores deveriam demonstrar sua insatisfação.”

“No passado, as pessoas se mudavam para as cidades em busca de emprego”, diz o gestor urbano de Cincinnati, Milton Dohoney. “Hoje, jovens trabalhadores de formação superior se mudam para as cidades em busca de um lugar ao qual possam pertencer. E, se as empresas percebem que estamos instalando um trilho na rua, sabem que haverá uma rota permanente passando por lá durante sete dias por semana.”

Depois de analisar o sistema de bondes de Seattle, de Tacoma e de Charlotte, Dohoney se convenceu de que eles incentivam o crescimento. “Cincinnati precisa competir com outras cidades pelo investimento”, ressalta.

Cento e sessenta quilômetros a nordeste, o prefeito Michael Coleman, de Columbus, em Ohio, chegou à mesma conclusão e não mede esforços para construir uma rede de bondes no valor de US$ 103 milhões por toda a avenida principal da cidade, ligando a Universidade Ohio State ao centro empresarial. A instalação do percurso seria paga por meio de um imposto de 4% sobre ingressos de espetáculos, eventos esportivos e estacionamentos na área central, além de uma contribuição de US$ 12,5 milhões da Ohio State.

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3 Comentários leave one →
  1. 17/08/2008 23:17

    Gostei do blog e me identifico muito com as idéias de vcs. Sou biólogo e gostaria de trocar informações.

  2. Eu paulo permalink
    28/08/2008 22:37

    3 garagens? Não entendemos nada!

Trackbacks

  1. Cidades para as pessoas « apocalipse motorizado

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