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O pré-sal e o desenvolvimento sustentável

14/09/2009

por Luís Fernando Guedes Pinto

É inegável a importância da descoberta de novas reservas de petróleo para o nosso País. Significa a conquista de um relevante estoque de energia, geração de riqueza, aumento da soberania e independência nacional, entre outros benefícios. Também é muito relevante reconhecer a importância e o avanço científico e tecnológico pelo fato de sermos capazes de explorar o petróleo nas situações extremas do pré-sal. Sem dúvida, este salto deve se desdobrar em diversas outras áreas do conhecimento.

Todavia, a celebração e a apresentação da descoberta e exploração do pré-sal como um marco na nossa história e o início de um novo País revela a miopia ou mesmo a ignorância de nossos líderes a respeito do desenvolvimento sustentável e onde podemos chegar. Destoa a comemoração pela descoberta de um recurso não renovável, de cadeia de produção poluente e um dos grandes responsáveis pelo aquecimento global e sua conseqüente ameaça para a humanidade. Tudo isto no século que desponta para a economia verde, a energia renovável, a biotecnologia, a reciclagem, os serviços ambientais, a logística reversa e tudo o mais que busca gerar riqueza e bem estar com minimização de impactos ambientais, conservação de recursos naturais, proporcionando condições para a permanência da humanidade na Terra no longo prazo.

O petróleo e o carvão mineral ainda são fundamentais para a nossa existência, devemos ser gratos a eles, mas deveriam ser tratados como símbolos do passado. O futuro está no sol, nos ventos, no solo, nas águas, na vida das plantas, animais e microrganismos e na inteligência e criatividade humana. Desconhecemos em grande parte o potencial natural para nos proporcionar alimentos, fibras, energia, fármacos e outras matérias-primas e produtos.

A solução de muitos dos nossos problemas pode estar em genes que não conhecemos. Nesse campo, não é possível pensar num limite. O limite do petróleo é queimar, produzir energia, virar fumaça, acabar e aquecer o planeta. Ao mesmo tempo, a alimentação de nossa espécie ainda depende majoritariamente de uma dezena de culturas agrícolas, usamos um número muito limitado de espécies nativas, seja de madeira ou de produtos não madeireiros. Enfim, desperdiçamos enormemente o potencial a nosso dispor, enquanto esgotamos os recursos não renováveis e poluímos e ameaçamos os não renováveis.

Se podemos nos orgulhar de ter o petróleo do pré-sal, que tal lembrarmos que somos um dos países que mais recebe energia solar, que possui grande reserva de água doce, um dos mais extensos litorais, a maior floresta tropical do mundo, um dos maiores reservatórios de biodiversidade, paisagens deslumbrantes, uma grande diversidade cultural e uma população capacitada e das mais criativas do planeta. Ainda vale destacar que estamos livres de terremotos, vulcões, furacões e tsunamis. Para alguns, a abundância de recursos e o desconhecimento da noção de escassez, seriam os responsáveis pela nossa miopia. Para outros, a ganância imediatista da nossa elite é o grande vilão pelo nosso tímido desenvolvimento e pujante degradação. É como se a Rio-92 não tivesse ocorrido, muito menos num país chamado Brasil. Lula esteve lá?

Portanto, as oportunidades de uma mudança de paradigma de desenvolvimento e uma revolução tecnológica nos poderia proporcionar uma riqueza de dimensão desconhecida, posicionar o Brasil de fato como um líder mundial, propondo e implementando uma nova referência para a humanidade. Será que a energia e as riquezas do pré-sal vão nos proporcionar as condições para esta transição, ou, ao seu final, faremos furos ainda mais profundos nos nossos próprios pés?

/*Luís Fernando Guedes Pinto*, engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia pela Esalq-USP, com diversos trabalhos publicados sobre certificação e sistemas de produção agrícola, é secretário-executivo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)./

Publicado no Portal Terra, Opiniões, Opinião Quarta, 9 de setembro de 2009, 16h45

11 Comentários leave one →
  1. Edilaine melo permalink
    15/09/2009 16:21

    Sr Luis Fernando, concordo com você o futuro depende do que construimos no presente.

  2. Lila permalink
    15/09/2009 17:03

    É isso aí! Esses líderes estão com os olhos tapados de óleo, não enxergam que esse futuro pode nem mesmo chegar, ou chegar injusto demais. Mas, o que esperar de um governo que não prioriza a sustentabilidade?

  3. 15/09/2009 22:28

    Sabe o que me preocupa com relação à sustentabilidade? Tenho a impressão de que os líderes dos países e aqueles que detém as rédeas da situação pelo mundo não estão nem aí com ela, os seres humanos e o futuro.
    Para mentes imediatistas o que importa é ganhar o máximo de dinheiro hoje e tentar assegurar que a Terra não exploda enquanto eles estiverem por aí.
    Restam, àqueles que enxergam a sustentabilidade e a preservação como o caminho mais razoável, a manifestação e a oposição ao mal uso que se faz do planeta.
    Mas será que haverá tempo?

  4. 18/09/2009 18:29

    “A busca por energia limpa” é título de post no blog http://odesafiodasmegacidades.com.br/

    Lançado há um mês é dedicado ao debate das tendências apontadas pelo estudo O Desafio das Megacidades, desenvolvido pelas consultorias GlobeScan e MRC McLean Hazel, com patrocínio da Siemens. Até outubro, este será um espaço para divulgar temas que fazem parte do dia a dia de quem vive nas grandes cidades.

    Convido os que se interessam pelo assunto a visitarem também este blog!

  5. Gaudereto permalink
    19/09/2009 22:07

    Belo texto Luis Fernando, mas devo discordar de uma parte, faço isso para incentivar a discussão, desenvolver idéia e para respeitar a sua.
    Quando você diz que o futuro está no sol, nos ventos, no solo, nas águas, na vida das plantas, animais e microrganismos e na inteligência e criatividade humana eu tenho que discordar. Porque o pré-sal pode sim ser comemorado, pois não vejo o carvao e o petróleo como algo do passado (não ainda) e o futuro não está nos elementos ou formas de vida não explorados para geração de energia, mas sim num novo estilo de buscar o obter as coisas, um estilo holístico que tente armonizar e respeitar as necessidades.
    att, Guilherme Gaudereto
    blog: http://www.navegantesdeiapetus.wordpress.com

  6. Humberto de la Serna permalink
    28/09/2009 2:39

    o Brasil vai ser um gigante em petroquímica, é só usarmos com virtude o nosso fundo de exportações…..A indústria mundial, desde a pesada, até a de tecnologica de ponta , consomem óleo mineral, em diversas especificações, e alto valor agregado para algumas variedades. Também os solventes, nunca deixarão de ser cruciais nas aplicações industriais, e alguns alcançam alto valor agregado. Por isso que o petróleo vai continuar sendo estratégico mesmo após a era dos carros elétricos e da hyperconferência. Por hyperconferência, eu venho tratando a fusão do audio-visual com a banda larga, que no futuro fará reduzir a necessidade de deslocamentos, inclusive internacionais.

  7. Rhayssa permalink
    30/09/2009 10:05

    Obrigada por abrir os meus olhos :O

  8. BOTAN permalink
    07/11/2010 8:40

    o basil tem que explorar sim o pre sal,
    mas temos que tomar cuidado,pois se acontecer um vasamento igual o do mexico, prais lindas como as do rio e santa catarina estarão aruinadas.
    deviamos explorar a energia do hidrogênio.

  9. Melissa permalink
    07/11/2010 15:32

    Me decepcionei de ler um texto assim em um blog sobre ecologia urbana.

    Esse discurso é quase o mesmo dos políticos. Eles falam sobre energias renováveis só para dizer que falam/fazem alguma coisa, mas na prática só priorizam os combustíveis fósseis, como se eles fossem vitais e necessários. E não seriam, se eles usassem todo esse dinheiro para fazer uma reforma de geração de energia.

    Falar que “o petróleo e o carvão mineral ainda são fundamentais para a nossa existência” é piada. O ser humano depende de ar, água, comida e um lugar saudável pra viver. E energia renovável pra fazer um sistema funcionar tem de sobra, é só investir. Isso ainda não aconteceu porque o poder privado da indústria petrolífera (e outras, como automobilística) está mais poderosa que o próprio poder público, que se submete a eles.

  10. 18/03/2012 19:24

    Ola, lendo um artigo aqui publicado em 2009 de Luís Fernando Guedes Pinto, gostaria de saber se voces conhecem o keppemotor, que foi descoberto em fevereiro de 2009 em MG… é um substituto e uma descoberta comparável à invenção da roda… em apenas uma ano, houve nada menos do que 4 milhoes de acessos ao seu site http://www.keppemotor.com
    que está em mais de 8 idiomas. Ele utiliza a energia descoberta por Tesla, energia livre, escalar ou essencial, assim chamada pelo descobridor… que deu sequencia às descobertas… e tambem o keppemotor NAO ESQUENTA, o de Tesla esquentava.

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