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O momento é agora

10/03/2008

los_angeles_19_faixas2.jpglos_angeles_19_faixas2.jpgCom o retorno de São Paulo à rotina, depois do carnaval, assistimos a um claro agravamento do problema do trânsito. Ele vem sendo detectado pelos registros da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que monitora 820 quilômetros de vias da cidade. Dia após dia, recordes de congestionamento vêm sendo batidos nestas vias, tanto no período da manhã como da noite: 214 quilômetros de ruas e avenidas paradas às 19:15 horas de 29 de fevereiro; 149 quilômetros às 9 horas da manhã do dia 3 de março, 155 quilômetros às 9:30 de 4 de março, 165 quilômetros às 9 horas de 6 de março.

O quadro vai se agravar. Apesar do preço do petróleo escalar, a indústria automobilística conhece um de seus maiores booms e fabricantes indianos e chineses introduzem no mercado carros de 2.500 dólares. No Brasil, carros zero são agora financiados em até 99 meses, facilitando sua compra! E os problemas não se restringem ao trânsito: a poluição em São Paulo, causada essencialmente pelos veículos, voltou a piorar. Em 2007, o número de dias em que a qualidade do ar medida pela Cetesb ficou imprópria ou má aumentou 54%. A poluição também acelera as tendências ao aquecimento da região – cujas temperaturas, desde de que começaram a ser medidas em 1943, jamais foram tão elevados.

É perceptível que a velocidade de circulação na cidade está caindo rapidamente. Todos vêm sentindo as conseqüências tanto da irresponsabilidade das autoridades para com o transporte coletivo, quanto da grande expansão sem barreiras da frota de veículos – no ano passado foram produzidos cerca de três milhões de novos carros no Brasil. E a frota de veículos circulando pela cidade cresceu, em um ano, 7%, passando de 5,6 milhões para 6,0 milhões, sendo três quartos deles automóveis que normalmente circulam apenas com seus motoristas. A enorme expansão do número de motocicletas, autorizadas pela legislação em vigor a circularem entre as faixas, também contribui para degradar o trânsito e aumentar as perdas de vidas em acidentes.

Temendo se desgastar com os motoristas, a prefeitura nem adota medidas de restrição à circulação de veículos – como pedágios urbanos (praticados nas capitais européias), exclusão dos automóveis particulares do centro velho, aumento do rodízio (como fez a Cidade do México), aumento da fiscalização (um terço da frota é irregular), proibição de caminhões no centro entre as 6 e 23 horas ou apenas expansão das zonas azuis –, nem acelera a criação de corredores exclusivos de ônibus, por pressão dos comerciantes das vias onde eles seriam implantados. O governo municipal se limita a assistir a escalada de congestionamentos: quando se atinge o recorde de multas de trânsito, funcionários do CET trabalham nas ruas sem equipamentos de comunicação! O prefeito Gilberto Kassab afirmou que os congestionamentos são o resultado da falta de investimento da prefeitura no metrô nos últimos 32 anos, que não tem solução de curto prazo, mas agora “não adianta chorar sobre o leite derramado”, sem apresentar qualquer proposta (Folha de S.Paulo, 7/3/2008, p. C6).

O presidente da CET (e seu gestor em todos os governos conservadores das últimas décadas), Roberto Scaringella, é mais franco: não haverá “medidas radicais que dariam fluidez” ao trânsito, porque “podem impactar negativamente a economia”. “A conseqüência é que a gente terá de aprender a conviver com um número maior de quilômetros de lentidão. Quando eles se excedem, não gera um colapso da cidade, mas a deterioração e a delinqüência urbana” (Folha de S.Paulo, 9/3/2008, p. C3).

A atuação do governo do estado também é marcada pela mesma inação. Ele não consegue acelerar a expansão do metro e nem cumprir as metas de construção da Linha 4 – Amarela (prevista, quando licitada em 2001, para entrar em operação em 2006), onde os métodos privatistas geraram sucessivos desastres e atrasos (na melhor das hipóteses, ela começará a funcionar de forma parcial, em 2010!). E nem mesmo geri uma integração adequada com a rede de ônibus, perdido em disputas menores de rateio dos custos com a prefeitura.

Nada podemos esperar dos governantes! Este é um problema que São Paulo só poderá enfrentar e eventualmente resolvido se organizar um movimento cidadão que reúna força política para libertar a cidade da ditadura do automóvel, um movimento com propósitos claros, capaz de impor uma expansão da oferta e qualidade do transporte público e reduzir o espaço para o transporte individual.

Nosso coletivo acumulou uma importante formulação sobre a questão do transporte na cidade no documento “São Paulo sustentável com qualidade de vida”, que temos agora que difundir, como fundamento de todas as propostas concretas que inúmeros técnicos vêm levantando.

Ou este será nosso futuro!

O futuro de São Paulo?

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